sábado, 9 de abril de 2011

Experimento com o amigo dragão '-'



Aos olhos dos pais ele existia
Mas o brilho nos olhos não se via
O pequeno dormia em sombras
Sem sonhos não se erguia
O tempo rompeu os laços
Ele fugiu dos abraços
Trancou o quarto
Perdeu o compasso
Desfez-se no espaço.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Ao Canto das Fadas


 Sou vibração, oscilo ao ritmo da música
Visto-me de estrelas e saio para beijar a lua
De manhã vou à fonte e me refresco no Sol
Quando chove tiro a roupa e brinco na rua
Em casa enxugo os pratos e dou comida aos pardais
Sou vibração e quando a luz me cega irradio as cores
Monto um jarro de flores pra meu amor
Depois quebro o vaso quando se for
Janto fora da hora e danço sem som
Ao voltar para a cama
Fadas do reino cantam para eu dormir:
Descanse bem, mergulhe fundo, a vibração não tem fim.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

II Experiência



Sex on Fire

A tempestade apontava no horizonte
Chamas contra as trevas, foi o que vi
Relâmpagos cortavam o céu
Trovões saldavam a noite
É certo, o tempo estava contra nós
Vento frio parecia varrer os segundos
Mas o desejo era maior
O suor da sua pele, o calor do seu corpo
Tudo era errado
Um segundo pela eternidade, eles diziam
Mas seu sabor era dourado
A sede aumentava a cada beijo
Nossos corpos se confundiam
O fogo nos consumia, minha voz tremia
Dor, amor, calor, vapor
O último raio na noite
O silêncio reassume seu trono
E a chuva apagava nossos rastros

sábado, 3 de outubro de 2009

Milênios Sem Você


Milênios Sem Você

Entre milênios já esquecidos
Em ninho hermético onde fiz morada
Trabalho de larvas e besouros necrófragos
Teço fantasias nácar no embalo de sonhos
E crio ilusões à partir do nada
Sou manto negro sem lua
Estrela opaca girando às cegas
Senda sem início à ilusão do fim
Floresta Negra, árvore morta
Fonte corrompida, rio escarlate
Campo de brumas e orvalho ácido
Sem você também sou fantasma
Mas qual cristal sagrado enterrado na lama
Espero ansioso à aurora que o trará
Libertará minha chama do abismo
E o amor que enfim nos consumirá

Arte gráfica: Kiss of Life - Paulo Franco

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Homenagem a Danilo

Esta é uma homenagem escrita por mim, em nome dos participantes do chat amigos depressivos. Mas como no chat eles fizeram um resumão…resolvi colocar aqui a homenagem completa. Hoje ele está fazendo aniverssário, parabéns Danilo.

Você não faz idéia de quanto é importante para todos nós Danilo, poeta depressivo de Petrolina!
"Deus tinha acendido na alma do mancebo aquele fogo sagrado da poesia, que eleva o homem acima da terra e faz correr de seus lábios, em cânticos sonoros, a linguagem do inspirado".

Suas poesias são palavras tecidas vindas do seu íntimo, mostrando a beleza da sua psique as contradições que existe em todos nós. Podemos nunca ter nos encontrado pessoalmente, mas é certo que lhe conhecemos mais do muitas pessoas que convivem com você todo dia. Estamos aqui para aprender, ensinar e evoluir, portanto esperamos que apesar dos pensamentos negativos e problemas psicológicos você tenha absorvido o melhor que pudemos lhe oferecer.

Essa é uma semana especial para todos nós do chat por que você completa mais um ano de vida, mais um ano que você conseguiu vencer e sobreviver... Você é tão especial quanto todos nós daqui do chat. Como você pode dizer que não tem luz, se nos iluminou várias vezes quando estávamos perdidos no escuro?
Dedicamos a você uma poesia linda de Álvares de Azevedo:

Álvares de Azevedo
Soneto
(Oferecido ao meu amigo Luís Antônio da Silva, no dia 2 de junho de 1847, seu
aniversario natalício.)

Perdoa se hoje em verso rude não cadente
Ledos os sentimentos de minha alma exprimo:
Tu verás que na arte de poeta eu não primo
Porém verás que só digo o que meu peito sente.
Mas os teus anos que me alegram a mente,
Triste pensamento me faz vir do imo
De meu peito alegre. De ti que eu tanto estimo
Para o ano, em igual dia hei de estar ausente!
Mas se de ti separar-me a extensão tão imensa,
A grande distância que entre nós estiver
Lembrança de ti não me fará perder.
Faz que tua alma a distância também vença,
Neste dia entre os amigos não te esquece
Daquele em quem tua lembrança não fenece.

Obs. (imo = que está no lugar mais fundo; Cadente= ritmado; Ledo= alegre)

Força Danilo! Estamos com você! Forever, ever and forevermore!


Fotografia: *amizade* de ...Xiana...

terça-feira, 15 de setembro de 2009

A triste sina de Iracema - Parte II

 Parte II
Ao sair de casa um besouro passou zumbindo pelos ouvidos, fazendo-a arrepiar-se até o último fio de cabelo.....o céu estava negro como se fosse noite, a ventania era forte e não demoraria chover novamente. Iracema voltou ao seu casebre e saiu munida apenas de um guarda chuva e um cajado ( que ela teimava em dizer que era apenas uma vara para espantar os animais no caminho) Ela teria que caminhar 5 Km para chegar à igreja enfrentando frio, chuva com ventania, estrada encharcada e a solidão como sua amiga intima.

Para não desanimar Iracema imaginava uma igreja bastante iluminada, todos os irmãos sorrindo e bem vestidos como os "anjinhos" como ela passou a chamá-los. Imaginava que todos iam lhe acolher bem, o calor das almas bondosas lhe aqueceriam, teria uma nova família e o amor de servir a Deus preecheria o vazio que a vida caprichou em esculpir dentro de si. Assim seguiu o caminho penoso entre cores vibrantes e luz acalentadora.

Ao chegar à rodovia que circundava a cidade parou um pouco para relembrar a localização da igreja. A dor na coluna e as varizes inchadas não importavam mais... Ela estava próxima do livramento do seu fardo. Era um dia comum, até monótono se você não considerar a chuva que estava caindo, tudo era familiar, não havia sinal nenhum do que viria a acontecer... Iracema segurando o guarda chuva apertou o cajado na outra mão e encaminhou-se para o encostamento da rodovia. Ainda teria que percorrer 200 metros pelo encostamento e depois atravesar a BR116 para adentrar na cidade...

Não sabemos ao certo o que aconteceu, os dados da autópsia não indicam atropelamento. --- Ela gozava de boa saúde para quem viveu nas suas condições, disse um interno ao ler o prontuário. Alguns acham que enquanto caminhava, um caminhão deve ter passado ao seu lado, provocando uma lufada de vento, derrubando-a no declive do encostamento... outros palpitam que ela simplesmente escorregou num seixo molhado e caiu... Como ninguém estava a sua procura o corpo só foi encontrado quatro dias após o incidente... os médicos dizem que sua morte foi lenta e sua dor imensurável. Acredito que apesar de  Iracema ter sido surrada como Jó enquanto viva, suas últimas palavras foram --- Deus cuide bem dos anjinhos que me trouxeram alento.

R.I.P Iracema

Fotografia: dona chiquinha - Mariana Vasconcelllos


segunda-feira, 14 de setembro de 2009

A triste sina de Iracema (realidade agreste)


Nunca olhei nada além de mim mesmo. A depressão nos torna egoista... ou é o egoismo que nos torna depressivos? Não sei....
Aqui segue um conto sobre a realidade que me rodeia e consegui enchergar enquanto pensava no meu suicídio:
I parte
Era fim de inverno, época esperada com bastante anseio na região agreste baiano. Foi um bom ano para as plantações de milho, feijão e batata. As espigas cresceram as flores não cairam e as vegens não secaram antes de amadurecer. As crianças iriam para a escola de barriga cheia dessa vez.

Os povoados do distrito de  Orolândia estavam radiando de felicidade assim como o Sol que secava as vagens de feijão no terreiro das casas. Reunidos, todos da familia participavam na hora de bater e debulhar o feijão enquanto proseavam e cantavam de tamanha felicidade. Nas roças de milho alguns não tiveram sorte, plantaram tarde demais, os sabugos sevririam para alimentar o gado quando a paisavem voltasse ao cinza habitual.

Porém, no meio de tanta fartura estava Dona Iracema. Viuva aos 35 anos, aos 60, cinco dos seus filhos já haviam seguido suas vidas na direção que o vento soprara.(Nem sempre favorável.) Só lhe restara Nilton o filho caçula. Esse, porém, para o pesar de Iracema faleceu três meses atrás. O menino adoeceu, e logo correram para a maternidade de Orolândia. O doutor examinou, prescreveu alguns medicamentos e o mandou de volta. Morreu um dia depois, não houve nem tempo para chamar pai Crispim. Só o que Iracema pôde fazer foi rezar para que sua alma seguisse o caminho certo e descansasse em paz.

Ela não tinha terreno para plantar e mesmo se tivesse do que adiantaria se não tinha um centavo para comprar as sementes? E se ela tivesse as sementes, do que adiantaria se não tinha quem  lhe ajudasse a lavrar o solo? Ah, mas não duvide, na hora da colheita muitos seriam os voluntários!

Ainda lhe restava algumas provisões de quando vendeu uma porção de cobre que tinha conseguido juntar procurando meio ao lixo dos habitantes da cidade. Mas neste maldito dia o céu resolveu desabar e sua lenha estava molhada, seria impossível cozinhar! Enquanto varria a casa, pensando no que poderia fazer, dois jovens bateram na sua porta. Ela abriu intrigada, imaginando o que rapazes bonitos vestidos para ir num casório pretendiam naquele povoado afastado, naquela hora do dia e ainda mais com o pé d'água que estava caindo.

Logo um dos rapazes apunhou uma bíblia e rezou que o reino dos céus tem-se aproximado, os maus serão julgados e os justos herdarão a Terra, vivendo em  pax e super abundância... Para Iracema que não foi à escola, só sabia escrever seu nome e nunca foi muito além de Ponto Alto e Tanquinho, quase nada fez sentido.

Tarde do dia com um aperto no peito maior do que a dor no estômago olhou para o folheto que os jovens haviam deixado e lembrou-se das suas palavras --- Hoje à noite realizaremos uma reunião especial, e o descurso falará sobre a importância de nos ajuntarmos no tempo do fim e as bênçãos que o reino justo de Deus trará... Os vizinhos haviam-lhe negado comida e não tinha com quem dividir sua dor.(sentimento que ela mal sabia nomear) Então resolveu ir em busca do "alimento espiritual" prometido com base na bíblia pelos rapazes.
Ao sair de casa um besouro passou zumbindo pelos ouvidos, fazendo-a arrepiar-se até o último fio de cabelo.....
continua ( sé é que alguém teve coragem e paciência de ler até aqui! haha)